Noedimonteiro's Blog

Educação etnorracial, multiculturalismo e afronegrismo

Archive for junho 2010

Os albores da África

leave a comment »

NOEDI MONTEIRO

A África nada tem de imagem obscura e como de um fantasma, como de uma floresta escura, cheia de animais perigosos, de insetos e de doenças, um espaço a céu aberto e inexplorado à espera de um libertador ou de um herói, de um conquistador para os seus habitantes e controlador do continente, à espera de um revelador, de seus mistérios, como foi atribuído por seus colonizadores europeus, a ponto de acreditarem serem eles o escolhido.
Era vista como uma África de civilização inexpressiva, um povo atrasado e supersticioso, carregado de simbologia e rituais, mas precisando da proteção, de quem pudesse exercer mandatos sobre ela, para o bem de seus habitantes e de seus territórios, como se ela estivesse precisando de socorro de outra civilização. Uma África, que precisava remir-se de seus pecados originais e naturais. Esta África, foi a que entrou para história universal, para o conhecimento nos currículos escolares e de divulgação em todo o mundo, como uma forma de reprodução histórica, pedagógica e de demonstração, da força arrasadora e impiedosa, de uma dominação planejada, nos moldes desta relação de poder euro-áfrica, para criar um exemplo de hegemonia no imaginário e nas representações sociais da humanidade.
Com estas características, tenta-se negar, ocultar ou esquecer os albores da história africana e da constituição de seus fabulosos reinos e pioneirismos, e valorizar o colonialismo usurpador, que se instalou neste continente desfigurando sua cultura, religião, geografia, etnias, a soberania e as políticas públicas locais.
Apesar das descaracterizações de sua imagem como já anunciadas, a África, não perdeu sua identidade, particularidades e raízes; e como primeira civilização universal resistiu ao tempo, às inverdades e ao racismo.
Quando dela falamos, falamos do Egito, dos faraós (ex.: Ramsés II, Tutancâmon, das rainhas Nefertiti e Cleópatra amante de Marco Antônio), de Hagar concubina de Abraão e mãe de Ismael, pai dos árabes, falamos da rainha de Sabá (etíope), que se relacionou com o rei Salomão dando origem aos Falashas – judeus negros, de Zípora (etíope) esposa de Moisés e de Simão Cirineu que carregou a cruz com Jesus. Falamos de mineração com o reino de Cuxe e dos bantos, da matemática, em desenhos feitos na areia e do desenvolvimento do raciocínio lógico, da divisão dos dias em semana, da aplicação do sulfato de alumínio no tratamento de água, de filosofias orientais, de tecnologias agrícolas e hidrológicas, de artes (esculturas em madeiras, de máscaras, modelagem em cerâmica, fundição), das técnicas de embalsamamento, das lendas e mitos, de civilizações vigorosas, invejadas e desejadas. Falamos dos papas São Vítor I (189-199), São Gelásio I (492-496), São Melquíades (311-314). Falamos das primeiras migrações da África, que culminaram em Luzia, que cruzou a América se tornando a 1ª mulher do Brasil e de Luzio, que habitou a região de Lagoa Santa (MG) colonizadores do Novo Mundo. Falamos de Lucy, o bebê mais antigo do mundo encontrado na Etiópia. Falamos de Henrique 1(1459-1538), congolês e primeiro vigário-geral do Brasil (1514-1526).

Written by Noedi Monteiro

junho 3, 2010 at 1:45 pm

Publicado em Sem categoria