Noedimonteiro's Blog

Educação etnorracial, multiculturalismo e afronegrismo

Archive for outubro 2009

Barack Obama: prêmio Nobel da Paz

leave a comment »

NOEDI MONTEIRO

Obama mundialmente se evidencia e se consolida como primeiro presidente negro dos EUA e como um dos escolhidos em 9 de outubro, para o Prêmio Nobel da Paz de 2009, sob a justificativa de sua luta contra as mudanças climáticas, problemas mundiais e o conflito árabe-israelense.

Torna-se o primeiro negro a recebê-lo como presidente de um país.  Nelson Mandela antecipa-se a ele em 1993 na honraria que divide com Frederick de Klerk, pela luta em conjunto, pelo fim do Apartheid.  Depois exerce a presidência da África do Sul como primeiro negro a fazê-lo (1994-1998).

Alberto Luthuli (1898-1967) antecipa-se a Mandela e inaugura a entrega do Prêmio Nobel da Paz a um negro em 1961, como presidente do Congresso Nacional Africano (1952-1967). Luther King Jr. (1929-1968) é o segundo negro a receber a honraria (1964).

Desmond Tutu, bispo sul-africano da Igreja Anglicana recebe o Nobel da Paz em 1984; Wole Soyinka, escritor nigeriano (1986) e Derek Walcott (1992) respectivamente recebem o Nobel da Paz de Literatura. Wangari Muta Maathai, queniana, recebe o Nobel da Paz em 2004, pelo ativismo ambientalista.

Desta forma, a representação negra vem sendo reconhecida e recompensada pela opinião pública internacional, pela participação em grandes e decisivos acontecimentos, que imprimem novas diretrizes ao desenvolvimento histórico mundial.

Written by Noedi Monteiro

outubro 9, 2009 at 8:22 pm

Publicado em Noedi Monteiro

Enfim, é dia de Zumbi, Luther King e Barack Obama

leave a comment »

A implantação do feriado de 20 de novembro no Brasil, Dia da Consciência Negra, que homenageia o herói negro Zumbi dos Palmares (1630-1695), esbarra mais do que na farsa de se esconder atrás do poder econômico e não respeitar a data, na fúria branca de não se render a um negro; num país de tremenda relação de dominação e poder, heranças do cativeiro, e na tamanha distância nas relações etnicorraciais

O sociólogo Oracy Nogueira (1917-1996) distinguia o racismo brasileiro em sendo de “marca” aquele safado, cordial, sorrateiro, disfarçado, do de “origem” dos EUA, onde todos conhecem o procedimento e é direto.

Logo após o assassinato de Martin Luther King Jr. (1929-1968), líder do movimento pelos direitos civis nos EUA, o congressista democrata John Conyers protocola projeto de lei na Câmara dos Representantes requerendo feriado nacional a Luther King. Os trâmites nos comitês do Congresso só começariam em 1979, assim ainda, por empenho pessoal do presidente Jimmy Carter, democrata.

Wilson Simonal (1939-2000) rende tributo a Luther King em 1966, numa canção em parceria com Ronald Bôscoli. Dick Holler nos EUA em 1968 rende tributo a Abraham (1809-1865), Martin e John (1917-1963), ativistas pelos direitos civis, numa canção consagrada por Dion Francis DiMucci.

O Brasil curtia a onda black power de Stockey Carmichael (1941-1998), os Panteras Negras de Angela Davis, Percy Huey Newton (1942-1989), Eldrigde Cleaver (1935-1998) e Mumia Abu-Jamal; o rap; o soul; o funk; o blue;  e as “bolachas” (discos) da gravadora Motown. Eclodiam os movimentos sociais alternativos entre eles o movimento negro, teorizado por Adorno (1903-1969), Habermas, Giles Deleuze (1925-1995) e principalmente Michel Foucault (1926-1984), autor de Genealogía Del Racismo de 1976.

Ainda em 1968 era eleita a primeira negra para a Câmara dos Representantes (1969-1983) pelo 12º Distrito de Nova York, Shirley Chrisholm (1924-2005). Educadora e a primeira mulher a concorrer à presidência dos EUA em 23 de janeiro de 1972 ficando nas prévias da Convenção Nacional Democrata, como a quarta pré-candidata mais votada.

Enquanto isso, Illinois, que teve Barack Obama como senador estadual (1997-2004) e como representante no Senado dos EUA [2005-2011 mandato renunciado] em 1973, torna-se o primeiro Estado a criar o feriado, seguido por New Jersey, Massachusetts – o primeiro Estado a abolir a escravidão (1780) – e Connecticut. O Estado do Arizona patina em várias tentativas (1975/76, 1981/82, 1986) para estabelecer o feriado, mas é barrado pela fúria branca. Institui somente em 1990. Montana institui o feriado, mas o anula em 1978. Definitivo em 2003.

Finalmente o projeto de Conyers é apreciado em 27 de março de 1979 pela Comissão de Justiça do Senado e da Câmara, pela Comissão dos Correios e Função Pública e pela Subcomissão de Estatísticas e Censos; mas foi derrotado por 6 a 0. Dick Cheney, o vice de Bush (2000-2008), está entre os votos contrários.

O senador branco James Strom Thurmond (1902-2003) quis alterar o feriado para Dia Nacional de Reconhecimento. Steve Wonder em 1980 com o advento da canção “Feliz Aniversário” que homenageia Luther King; e em 1981 no Rally Pela Paz colhe 6 milhões de assinaturas pelo feriado.

Com a ida de Katie Beatrice Hall (1982-1985) pela Indiana à Câmara dos Representantes, a luta pelo feriado encontra seu caminho. A resolução HR 3706/1983, de sua autoria e aprovada pelo Congresso, é transformada na lei nº 98-144, de 2 de novembro de 1983, assinada pelo presidente [1981-1989] Ronald Reagan (1911-2004), instituindo a terceira segunda-feira de janeiro como feriado nacional e civil dedicado a Luther King Jr., o “King Day”. Comemorado pela primeira vez em 20 de janeiro de 1986 por penas 17 Estados. Em 1989, outros 27 estados passam a comemorá-lo elevando o número para 44. A partir de 2000, todos os Estados passam a comemora a data. A festa cívica e etnicorracial estadunidense é nacional.

Os mórmons que até 1978 não aceitam batizar negro no Sacerdócio de Melquisedeque por considerá-lo descendente de Caim/Cão, portanto, um maldito e degenerado; em Utah chamam o King Day, de Dia dos Direitos Humanos. Em New Hampshire, o feriado foi chamado de Dia dos Direitos Civis. A Virgínia estado confederado conjuga o feriado Lee-Jackson ao King Day aproveitando para lembrar de seus generais sulistas da guerra da secessão (1861-1865) Robert Edward Lee (1807-1870) e Thomas Jonathan Jackson (1824-1863). Enfim, todos os Estados se rendem imparcialmente ao King Day a partir de 2000.

No Brasil, Zumbi é tornado ícone de nossa história em Porto Alegre – RS em 1971, pelo Grupo Palmares de Oliveira Silveira (1941-2009) e transformado no Dia da Consciência Negra em 7 de julho de 1978 pelo Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial (MNUCDR) em São Paulo; oficializado como Dia Nacional Brasileiro da Consciência Negra pela lei federal nº 9.125/1995; instituído Dia Nacional da Consciência Negra no calendário escolar pela lei nº 10.639/2003, que altera o artigo 79-B da lei nº 9.394/96 (LDB). Zumbi é reconhecido herói nacional pela lei nº 9.315/1996. Assim, 20 de novembro que data sua morte torna-se feriado no Rio de Janeiro pela transformação na lei nº 2.307/1995, do projeto de lei nº 2.080/1992 do vereador Edson Santos atual Ministro de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR).

As comemorações se transformam em apenas expectativa e ansiedade. O caso foi parar nas barras dos tribunais. No STF (Supremo Tribunal Federal), tendo como relator do processo o ministro Marco Aurélio em 29 de junho de 200o, Zumbi é defendido e sua grandeza reconhecida, depois de 300 anos de sua condenação e execução sumária pelo estado opressor. O feriado é validado podendo ser instituído pelas câmara municipais com base no art. 358, incisos I e II da Constituição Federal/1988 que assegura, conforme reconhecimento, o direito de legislar sobre assunto de interesse local. Com voto confirmado pelos pares é extinto o processo sem apreciação do mérito.

A deputada estadual Cida Diogo por meio do projeto de lei nº 2.721/2001 transformado na lei nº 4.007/2002 pela governadora Bendita da Silva, estende o feriado para o Estado todo. Assim começa a peregrinação de 20 de novembro pelo Brasil.

No Equador, a partir de 1º de outubro de 1960, comemora-se o Dia do Negro. Em 10 de outubro de 1997 pela resolução R-035-97 da Sala de Sessões do Congresso Nacional, Cidade de San Francisco de Quito, Distrito Metropolitano, institui-se o Dia Nacional do Negro que homenageia o herói conforme o artigo 2º Alonso de Illescas (1528-1585), líder da República de Zambos de Esmeraldas, que resiste bravamente aos espanhóis. No artigo 3º da resolução equatoriana está indicado que estudo sobre Alonso de Illescas deve estar inserido no currículo da história nacional, para o reconhecimento das novas gerações.

É lembrado no Panamá em 30 de maio, o Dia Carlos Antônio Mendoza (1856-1916), primeiro presidente negro do país que exerce o mandato de 1º de março a 3 de setembro de 1910, e reconhecido como pai da independência panamenha. A Colômbia designa 5 de janeiro como o Dia do Negro e o dia 6, do Branco, na festa popular do Carnaval.

Líderes afro-latino-americanos: Yanga (1564-1612) no México; Domingo (Benkos) Bioho (séc. XVII) na Colômbia; Rey Negro Bayano (séc. XVI) no Panamá; Toussaint L´Ouverture (1743-1803) e François Makandal (séc. XVI) no Haiti; Francisco Congo (séc. XVII) no Peru; Andresote, apelido de Juan Andrés Lópes Del Rosario (séc. XIV) e Rei Miguel e sua mulher Reina Guimar (séc. XVI) na Venezuela.

Restam o Dia de Barack Hussein Obama, primeiro presidente negro dos EUA, eleito, em 4 de novembro de 2008, e o Dia Nelson Mandela.

[Texto atualizado, mas que inicialmente foi publicado no Jornal de Piracicaba, de 20 de Novembro de 2008 – Opinião – 3]

Written by Noedi Monteiro

outubro 4, 2009 at 9:24 pm

Publicado em Artigos, Noedi Monteiro